segunda-feira, 13 de junho de 2011

Mas que judiação, Santo Antônio!

Santo Antônio de Pádua, ou Santo Antônio de Lisboa porque foi onde nasceu e começou seus estudos.

Formado em Direito e Filosofia pela Universidade de Coimbra. Logo depois decidiu estudar Teologia na mesma Universidade. É reconhecido doutor nesta última cátedra pela Igreja Católica.
Amigo pessoal de São Francisco de Assis, mudou-se para Itália e tornou-se franciscano, pregando aos bichos tal como o seu orientador. Mudou-se, pois, para este país em nome da causa, onde dedicou-se ao ensino exclusivo da Teologia, fixando-se em Bolonha, mas antes passou por Marrocos e foi lá que mudou o seu nome, antes Fernando de Bulhões, isso depois de retornar à Coimbra e se exilar no Eremitério dos Olivais de Coimbra, tudo em razão do martírio e decapitação de cinco de seus amigos.
Santo Antônio devotou toda a sua obra aos pobres, daí ser, na Europa, considerado o padroeiro dos pobres, e, curiosamente, dos bens desaparecidos, tal qual São Longuinho.
Mas por que Santo Antônio ficou popular(íssimo) como "santo casamenteiro"?
Ah, isso já foi no Brasil, e onde mais poderia ser?!...
Quando passou a ser conhecido por aqui pelas suas obras e pelos seus milagres, dizia-se que Santo Antônio quanto em vida, pregando, era um excelente conciliador de casais que lhe apareciam às vistas de se separarem.
Esse ar de "intimidade", advindo daquela imagem de alguém com quem se conta os problemas íntimos, e que permeia a cabeça de toda mulher preocupada com seus relacionamentos, por conta das brasileiras, rendeu ao bondoso Antônio algumas provas... e judiações também. Muitas moças afoitas por encontrar um marido retiravam o bebê dos braços das estátuas do santo - como já era conhecido pela imagem difundida em Portugal - prometendo devolvê-lo depois de alcançarem o seu pedido. "Ora, se o senhor fez isso para a Maricota do seu Raimundo, por que não me resolve também?". "Vou lhe dizer uma coisa 'Tonho', isso é muita injustiça! Eu que lhe devoto tanto, faço-lhe tantas orações, não és capaz sequer de me arranjar um marido?! Se aqui em vida o senhor resolvia tantos problemas do matrimônio, por que aí de cima, que é tudo mais fácil, não me põe logo nessa lista, seu doutor?! Não vou aceitar!...".
Ganhou tamanha força tal ar de proximidade com o santo, que alguns párocos mandavam fazer a estátua do santo com o Menino Jesus preso ao seu corpo, isso porque as mulheres simplemente o sequestravam e só devolviam a Criança quando lhe arrumasse o marido ansiado. Grudando a imagem do Menino no colo, evitava-se a danificação de várias obras.
Algumas mais zangadas, tal como até hoje fazem, brigavam com o dedo em riste com o padre benevolente a ponto de lhe colocar de cabeça para baixo, sabendo que não lhe renderiam quaisquer males porque "ele não seria capaz de me fazer mais mal do que já me faz ao me deixar solteira, uai!". Assim é que diziam que só o mudaria de posição o santo bondoso quando lhes arranjasse marido desejado. Enquanto isso, de cabeça para baixo!
A judiação com Santo Antônio já criou tanto requinte que já ouvi dizer que andam colocando a imagem do padre de Lisboa no freezer!!!
Mas tantas ralhadas renderam ao nosso Santo Antônio amigo, aqui no Brasil, muitos méritos, por exemplo, o patamar de santo mais devotado e querido do país (e não era para menos!). Nos Estados de Minas e Ceará o santo é reverenciado com festas durante todo o mês de junho e na Bahia, dado o forte sincretismo religioso, o Candomblé o adotou como Ogum, o orixá da guerra (?).
Mais não é só de casamento que vive Santo Antônio. Na comemoração de seu dia, distribui-se pãezinhos bentos para que sejam colocados em potes de açucar, farinha ou arroz para que não falte comida jamais na casa do devoto e se reconhece que durante todo o ano, o pão não cria mofo. Essa tradição vem lá de sua imensa dedicação à causa dos mais desfavorecidos.
Antônio morreu em Pádua, em 1231, no dia 13 de junho, o dia que muitas brasileiras jamais esquecem.
Vale lembrar que, muitos anos depois, neste mesmo dia, nasceria um dos maiores literatos de todos os tempos, também de terras lusitanas, Fernando Pessoa.
Sorte maior teve Pessoa que não fez nada de tão generoso, a não ser destribuir belas canetadas, caso contrário correria o risco de estar hoje em companhia do outro grandioso homem, dependurados nos armários espalhados pelo país, ambos a se acostumarem com o mundo ao contrário... Que mundo ao contrário é esse nosso!

Nenhum comentário:

Postar um comentário