terça-feira, 6 de novembro de 2012

O Vendedor de Leques

Publiquei no Instagram uma foto que particulamente achei linda, clicada pelas minhas andanças pela Colômbia. Mas a foto ganhou mais paixões! Ao dar um título a ela, a grande amiga virtual Danielle Giannini se encantou tanto com o clique quanto com o título que dei: "O Vendedor de Leques". Pura inspiração. Eu também pensara assim, mas foi ela, a Daniele que logo se propôs, muito gentil e delicadamente, como costuma ser, a escrever uma crônica. Eis aqui as emocionantes palavras. No título, o link direto para o blog da Dani.

O vendedor de leques *

*Título original de autoria do meu amigo virtual Flávio Assub.

Estavam lá os leques coloridos, estampa fina, todos minuciosamente dispostos sobre o chão rude da rua suja e pisada. Eram leques lindos, confeccionados no papel arroz, feitos a mão, mão que o tempo não perverteu ao desuso, mão hábil. Chamavam a atenção pelas cores vivas, assim gratuitas, na calçada do viaduto movimentado. Olhares recebiam aos montes, entretanto ninguém parava, nem um único transeunte estava disposto a sacrificar um segundo do seu tempo esgotado para apreciar tamanha riqueza. Não eram os únicos leques no viaduto; havia outro rapaz mais a frente, com um pano estendido no chão lotado de um amontoado de guarda-chuvas, baterias para celulares, massageadores portáteis e leques. Eram leques todos iguais, coloridos também, de uma estampa chamativa impressa no plástico; não tinha nem como o produto atrair alguém, misturado que estava aos demais artigos, feio e sem graça. Eram leques e nada mais. Leques sem história. Leques que saíram da máquina direto para a embalagem. Leques que estavam identificados pelo papel escrito em letras medonhas: “Abano em promoção – 3 por 10”. Por isso, e só por isso, um tanto considerável de gente, mulheres na maioria, parou o comprou. Estava calor e precisavam se abanar. Não durou muito o estoque do rapaz; fez um dinheiro bom naquela tarde. Vendeu leques como quem traz a salvação. Depois disso ninguém mais parou ali, ninguém se interessou pelos leques mais a frente, na mesma calçada, encantadores. Não que tivesse acabado o calor, não, estava abafado. O vendedor de leques coloridos, findo o dia, recolheu quase que com carinho sua mercadoria, nenhuma venda. Resignou-se, apenas lamentou não serem leques dignos de cumprirem sua tarefa. Homem de idade avançada, não velho, mas manso no pensar, o vendedor de leques recolheu-se ele também ao casarão antigo onde vivia desde a mocidade com seus pais, que lhe ensinaram a tirar o sustento das próprias mãos. Entrou pelo corredor estreito sem perceber o leque branco que caiu na soleira da porta. Nem o vento quis levar o leque em respeito a tanta beleza. Foi uma mulher que passou, viu o desenho de linhas finas e parou. Pegou o leque nas mãos. Quem teria perdido aquela joia?  Ninguém por perto. Sem resistir, seguiu com o leque em punhos. Agora era dela, e o exibia orgulhosa, para atrair mesmo a inveja dos outros; sabia o quanto era valioso o seu achado. Por pouco não sentiu o cheiro das mãos do vendedor de leques, por bem pouco. Sim, o cheiro dele estava lá, quase apagado; a delicadeza dele estava lá, quase ignorada; o pensamento dele estava lá, quase inaudível; a história daquele homem estava em cada grão de papel daquele leque, para sempre. A mulher quase se deu conta de que estava ali em suas mãos toda a razão de viver de um homem, sua alma completa e despreparada.


quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Pincel que baila ao som de Ravel

Devo ao meu amigo e guru Geetesh alumas técnicas de pinturas que na verdade não passam de meios sensoriais da arte. Em uma delas deixamos o pincel literalmente bailar. Para esta tela ouvi 15 vezes, no mínimo, o Bolero de Ravel para que pudesse deixar os pinceis dançarem, com a direção que tinha em minhas emoções. É por isso que se chama simplesmente "Ravel".
Dedico ao meu grande amigo Ézio Victor Bahia.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

A Nokia perdeu!

Veja essa! O videozinho "inocente" que pode fazer a Nokia pagar milhões em multa em processos que já tramitam na Justiça de SP. Vários cosumidores se sentiram lesados pelo sentimento de piedade ao garoto que supostamente procura um amor que... encontrou em uma balada mas perdeu o número de telefone que ela lhe dara num papel. O vídeo, segundo as denúnias ao Conar de SP, nada mais é que parte de uma peça publicitária para divulgar um lançamento da Nokia. Uma propaganda viral. O rapaz usaria os "consumidores" condoídos para vender mais celulares. Até onde vai as lesões aos pobres e vulneráveis consumidores, hein?!...

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Inventa!


Qualquer invenção é um ato de responsabilidade. Trato das coisas novas criadas no campo da ciência, das artes ou da tecnologia, há de se imputar obrigações iguais a qualquer que seja o sentido do ato de inventar, sendo ela boa ou ruim. 
Na verdade, trato dos elementos que vão nascendo e se ingerindo na vivência como que planejada desde a concepção divina de Adão e Eva, e não saem mais sob pena de se acabar com a própria existência. Ingrediente da Obra que teria o seu tempo certo para existir assim como foi a Construção descrita no Livro Genesis. É como se ainda estivéssemos desenvolvendo o que as Escrituras apenas começaram a descrever.
Não, não é filosofia e muito menos teologia! Note bem. Vamos do final ao começo. Você pensa que eu poderia estar escrevendo este texto em uma Olivetti com pedal ou uma Swissa, modelo Piccola (300 euros pela raridade)? Sim, poderia, desde que eu quisesse muito homenagear o brilhante Mário de Andrade quando deixou de escrever à tinta crua para usar um novo apetrecho até então surreal que fez mudar até a própria poesia. O artista brasileiro, por conta da máquina de escrever, tornou seus escritos mais impessoais porque deixou de dar, através do manuscrito, a sua personalidade de maneira mais evidente, tornando-se mais seco e de perfil objetivo. O que não aconteceu, por exemplo, com Henry James que passou então a ditar seus textos a um subordinado, tendo mais tempo e disposição para se inspirar.
Como que, de certo, querendo homenagear um ou outro célebre poeta, adeptos da evolução, eu poderia sim estar me valendo de uma novidade do mercado, e aí o caríssimo leitor poderia imaginar zilhões de possibilidades. Poderia estar escrevendo este texto em um PC, um note, um smart, um tablet e, quem sabe, conhecendo o novo aparelho que escreve com as ondas cerebrais. Não conhece? Eu também não, pelo menos por enquanto…
Lembro do meu pai, quando eu, ainda criança, ouvia sinais de ondas chiando em um aparelho enorme, do tamanho de uma caixa de som, “linkados” por um microfone esquisito em que ele repetia “CQDK, CQDK, em QRP, na escuta?” Era um saudosíssimo radioamador que servia para se relacionar mundialmente e trocar ideias, culturas, informações. Alguém conhece algo parecido nos dias de hoje? Bom, meu pai ainda guarda o seu aparelho, que já não era mais a “caixa de som” porque, assim como tudo evolui, o aparelho também evoluíra e ele trocara por um do tamanho de um tijolo, achando fantástico que a frequência poderia ser acompanhada por números digitais.
Certamente, naquela época, muitos poderiam viver sem o que era considerado um artigo de luxo, semente do que hoje é a rede mundial de computadores, agora ninguém, absolutamente ninguém, consegue se relacionar, sequer com o mais primitivo dos instintos, se não tiver, pelo menos em sua rua em qualquer Lan House, um computador conectado à internet. Como é que você iria dizer à sua mãe, que mora em Chapadinha, que o seu Décimo Terceiro não caiu na conta e que esse ano não vai conhecer seu novo tablet? Aliás, como é que sua mãe poderia saber o que é um tablet? Inimaginável que você escreva uma carta em papel almaço (lembra?) para esta função, depois cole um selo em um envelope de bordas verde-amarelas e vá até uma caixa de correio na esquina (ainda existem?). Sem internet, hoje, você não vive! Não tente se iludir!
Vamos avançar na involução. O telefone celular – que não sei por qual razão adquiriu esse nome tão feio se até em Portugal é mais prudente se chamar de telemóvel, honrando a praticidade do objeto quando por aqui ninguém entende o que, realmente, "célula" tem a ver com telefonia – , me lembro bem, vi nas mãos de uma madame que passeava na Faria Lima em seu Mercedes-Benz guiado por um motorista de uniforme. Era um pequeno bloco que a mão da senhora não conseguia abarcar e uma antena que só não saltava pela janela porque madame em São Paulo jamais anda de janelas abertas. “Essa deve ser mulher de bicheiro”, pensei. Hoje não se joga mais no bicho porque existe o Poker Party e os celulares servem até mesmo como telefone. Impressionante!
Imaginemos que, em um rompante saramaguiano, o mundo ficasse "cego" de celulares. Se um vírus tomassem conta dos aparelhos – sim, vírus há muito não é mais um “privilégio” dos animais – e todas as linhas de telefonia móvel parassem de funcionar. Vamos nos poupar de uma visão macro. As redes de telefonia iriam ter um colapso financeiro tão grande adeus aos cabelos rebeldes de Neymar na tela... ninguém, por exemplo, poderia imaginar que antes de sair de casa, você poderia deixar as calças justificadamente e sair só de cuecas mas jamais conseguiria esquecer do iPhone. Passou a ser instintivo.
Vamos aquém. Hoje você não precisa sair efetivamente de casa para ficar desesperado se o seu aparelho celular não estiver à sua mão. Pode ser que você precise ligar para o seu irmão que está no quarto ao lado para perguntar que barulho era aquele, em uma madrugada qualquer, na porta da frente de casa, se tremendo de medo, quando há algum tempo atrás, você só se cobriria com o cobertor e rezava.
Imagine, então, se Graham Bell (quem?) não tivesse tido várias noites de insônia e criado uma das maiores invenções do século passado, o bisavô do brinquedo móvel? Tudo bem que o telefone fixo virou um apêndice doméstico, mas você certamente não poderia ter vivido sem ele. Primeiro porque sem um, não viria o outro, e mais que isso, sinceramente eu não consigo conceber, na minha história de vida colegial, a gatinha da 3ª “A” dizendo pra mim “desliga você primeiro, vai”.
Mas não é só ao que se poderia chamar de futilidade inventada – até que fosse apresentado no Japão e o Jornal Nacional não noticiasse, porque no ano seguinte já passa, incondicionalmente, a ser necessidade – que o mundo se dobra. Houve invenções cruciais para que o mundo pudesse realmente existir até hoje. Como você extrairia o seu terceiro molar sem anestesia? Lógico que não o faria. E isso, com certeza, teria impacto no desenvolvimento natural da espécie. A seleção de Darwin não iria reconhecer a desimportância do dente e acabaríamos por ter mais de quarenta dentes na boca dentro de 100 anos, o que faria do Ronaldo fenômeno um verdadeiro “banguela”. Meu vizinho, grande pessoa, iria morrer por causa de uma unha encravada, coitado!…
Ponha na cabeça (ou no seu pendrive)! O mundo existe até que se crie algo e deixará de existir, literalmente, se algo que lhe foi criado se torne extinto. Mas calma! O desaparecimento de uma espécie animal é trilhões de vezes menos relevante do que o possível bug de artefatos “Louis Vuitton”. Não se cogita a existência do que somos hoje sem Wilhelm Schickard, que construiu a primeira calculadora mecânica em 1623; James Watt, que desenvolveu a máquina a vapor em 1765; Samuel Morse, que criou e registrou a patente do telégrafo em 1837; Alexander Graham Bell, que inventou o telefone em 1876 (lembrou?); Thomas Alva Edison e Joseph Swan, que inventaram a lâmpada elétrica em 1879; Karl Bens, que desenvolveu o primeiro veículo com motor à gasolina em 1885.
E não parou aí. Os irmãos Lumière, que criaram o cinematógrafo, antecedente do cinema em 1895 (Graças a Deus!); Santos Dumont, brasileiro, que realizou o primeiro voo com o 14 bis, o primeiro avião (que franceses que nada!) em 1906; da rede Arpanet, que com objetivos militares, daria origem à Internet em 1969; do Pong, primeiro videogame, que foi lançado em 1972 (se você conheceu, não deixe seu filho saber pra não rir da sua cara), Philips e Sony (as empresas), que lançaram o CD-Rom em 1984 (o que é estranho é que era chique ganhar o CD do Leandro e Leonardo. Hoje é chique ter um vinil da Lady Gaga!); Tim Berners-Lee, o deus da Internet, criada por ele em 1990…
Como é que eu sei isso tudo? Google! Em tempos de WikLeaks, conhecer muito das coisas pode ser um problema sério… Se é um personagem da Disney?! Não, mas é questão de pouco tempo para que o sítio de nome engraçadinho de bonequinho da Disney seja mais necessário que Orlando e o seu Mickey Mouse…

terça-feira, 17 de julho de 2012

A Cena do Telhado de Gabriela

Quem assiste à nova versão de Gabriela, não aguenta a espera pela cena iconográfica no novo folhetim. Naquele tempo, uma pipa, um vestidinho, um telhado e Sônia Braga fez história como ‘Gabriela’, na primeira adaptação do romance de Jorge Amado para a TV, em 1975. Como será que virá com Juliana Paes?!

Aliás, Juliana Paes, como foi devidamente alardeado, gravou no começo da semana a nova versão da famosa sequência. A previsão é de que vá ao ar no dia 24. Certamente não trará o mesmo charme que só mesmo Braga, aliás, dá à todo o romance. Esperemos...

Elza Soares em 'Paciência'

Não se trata de um lançamento. A gravação é de 2009, mas a voz arregaçada na melodia macia de Lenine em "Paciência" merece o resgate e os apalusos de quem une todos os caminhos da música do país em um só, e descobre que a riqueza musical do Brasil é capaz de feitos extraordinários como tornar quase plumas o que seria - digamos - sons harmônicos de gralha. Basta ter um pouco de 'paciência'...
Pontos para os acordes super bem trabalhados da produção de W Negro.
A linda interpretação está no filme emocionante "Estamos Juntos" de Toni Venturi. Aliás, você já assistiu ao filme, não? Excelente!


Ouça no link:

Elza Soares - Paciência

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Contrabando de Justiça


O Presidente do Paraguai cai. Num processo “constitucional” o Parlamento decretou o impeacheament de Fernando Lugo (Fernando?) que foi substituído pelo seu vice. O Poder Judiciário é (ou será, como se prevê) chamado. “Senhor Poder, foi correto o que fizeram com o homem eleito pelo povo? Estamos em crise... Solucione!”.

Foi para isso que o Judiciário nasceu, em linguagem não tanto rasteira: para solucionar crises. E que solucione de forma soberana! Se o Presidente do Paraguai foi inconstitucionalmente deposto de seu cargo, Ele, o Poder Judiciário daquele país tem a obrigação soberana de reintegrá-lo ao cargo, e mais que isso, com altivez.

Um Poder em que a sua existência é a solução natural de crises sociais e políticas – como a que vemos tão perto – não pode, não deve jamais se conceber que possa conviver com a crise que lida e dissolve. O tom inflexível dessa afirmativa não é uma diretriz, é um imperativo. Judiciário não existe com crise. Quando se encontra com uma crise, se despe da sua soberania para que possa solucionar E enquanto isso não se concretiza, não se pode erguer-se perante uma sociedade para a exercer a função para a qual nasceu de forma imperante.

E como se mantém a integra de um “Judiciário” sem ter que tirar a roupa em público para curar os seus traumas? Muito, mas muito simples: constrói-se roupas decentes. Busca-se bons ‘constureiros’. Fazer um Poder límpido é a chave para que se evite a crise e se exerça o papel que a sociedade espera de um Estado organizado. Meu Deus, ter um Poder Judiciário transparente e apropriado é simplesmente basilar numa agremiação de gente!

É possível? Lógico que sim! Não me venha com aquela conversa chata e reiterada de que a raiz federativa da nação, o país, o conceito de Pátria brasileira não consegue mais se desalinhar com os tortos costumes coloniais, a civilidade tupiniquim e com uma sociedade despojada do senso de moral e justiça. Pode sim e deve! Tudo muda! Nosso país vive uma fase evolutiva fantástica e ficar com a tosca ideia de que somos colônias terceiro-mundistas soa tão irritante!; isso é procurar desculpas para nossas ignorâncias.

Desculpe-me a todos que atinjo que essas palavras porque pecaram nas suas condutas jurisdicionais e/ou jurisdicionais-administrativas, mas a cova do bem, cava o bom defunto. Quem não busca saber onde pisa, mesmo sabendo que a sociedade não é mais a mesma (ou pelo menos tenta não ser); que pensa que tudo que público é apenas um meio de se ter um naco de ações abertas no mercado de capitais, certamente penam em alguma alcova viva que – sim – já tem nascido, e promete se consolidar. Eu acredito!

No Paraguai, estão, pois, esperando a palavra do Brasil para chancelar a legitimidade da retirada do presidente Paraguaio.  País que se preze não espera palavras de quem quer que seja, porque existe Poder para isso. A não ser que o Poder que tenha para tanto não seja legítimo, um Poder "fake", comprado em uma baquinha na Ponte da Amizade....

sábado, 5 de maio de 2012

Eu quero filmes!

Resolveu assistir à uns bons filmes neste fim-de-semana e ficou meio perdido na hora de escolher?
Aí vão duas boas dicas minhas: Alexandria e Esquizofrenia


Eu sempre gosto quando o cinema se mistura com História, e no caso de Alexandria além de termos um roteiro muito bem explicado, ele nos prende por algumas peculiaridades. O filme prima pela sua qualidade narrativa de imagens, focando-se em duas ideias.
Um dos focos é a astrônoma Hipatida, lindamente interpretada por Raquel Weisz. Hipátida é grande estudiosa das órbitas planetárias; o modelo ptolomaico, onde a Terra seria o centro do universo e oito esferas, ou “céus”, que representariam as órbitas de corpos celestes como a Lua e o Sol indicavam a trajetória dos astros em torno do nosso planeta. No entanto o modelo ptolomaico não satisfazia a certas indagações que aparecem ao longo do filme: a Terra estaria ou não em movimento?

Outro ponto crucial que sustenta de forma bem mais incisiva o roteiro, sem desalinhar-se com a personagem de Weisz, são os conflitos entre pagãos e cristãos, buscando passar uma mensagem de união esquecida pela humanidade.
Pois bem, eis aí os alicerces que vai direcionar a história e que se agregam de forma torporosa. Até que ponto a Filosofia da nossa personagem pode ser um insulto à crenças da época? Não seria uma contribuição sem igual esses estudos para a nossa evolução científica? Até onde a obssessão pelo poder poder embaralhar isso tudo?
São questionamnetos que se podem fazer dutrante o filme, mas o que mais me intriga no momento é por que esse filme, de um diretor qualificado como Alejandro Anemábar, não foi lançado nas salas de cinams do país e só o foi dois anos depois em DVD e Blu-Ray. Um filme pedagógico como este seria uma contribuição das salas de cinemas às carentes salas de aulas do país.

Título original: Ágora
Direção: Alejandro Amenábar
Produção: Álvaro Augustín, Fernando Bovaira, Simón de Santiago, José Luis Escolar e Jaime Ortiz de Artiñano
Gênero: Drama
Ano 2009


Esquizofrenia nos arrebata no segundo take. O filme não informa se Keane, o personagem principal(íssimo)  - e título original do filme - já tinha problemas mentais, mas suas primeiras falas mostra a busca desesperada por sua filha que supostamente teria perdido em uma estação de trem. Vemos logo ali um Keane em estado esquizofrenico avançado. E o decorrer da película, com a camêra exageradamente em seu perfil, em close quase o filme inteiro, nos mostra o verdadeiro horror de viver uma doença como essa: discursos, pensamentos e atos desorganizados, delírios sobre o suposto sequestrador, que pode estar em toda parte.
Como um ritual, que tem algo de seu comportamento doentio, Keane volta todos os dias ao lugar em que Sophie, o nome da sua filha, haveria sumido e procura, ali, reviver a cena a todo custo, reconstituindo-a passo a passo.
A situação de Keane se agrava, já que está intimamente ligada ao consumo de álccol e cocaína, o que aumenta, de forma visível, os delírios do protagonista.
Mas algo inesperado vai acontecer. A ligação casual de Keane com uma mulher que tem uma filha da mesma idade da sua, o faz ter um paixão inverossímel. Nesse momento não se sabe se é o instinto de carência e sofrimento que o faz seguí-la como que por um certo amor repentino.
O traço bom desse momento narrativo é que podemos ver um Keane sóbrio, sem crises, longe das drogas. Isso fica ainda mais evidente quando ele tem que cuidar da pequena por dois dias, já que sua mãe simplesmente sumiu.
O problema é exatamente esse: Keane é um esquizofrênico, tomando conta sozinho, de uma criança da idade de sua filha sequestrada. O que isso pode refletir na cabeça de um transtornado mental? Como haverá controle?
Minha maior dúvida, na verdade, é como o ator Damien Lewis passou tão despercebido dos focos com uma atuação tão real e grandiosa.
Prepare-se para um misto de sofrimento e consternação dentro da mente de um esquizofrênico. Prepare-se para se confundir entre o real e o imaginário.

Título Original: Keane
Estado: Em DVD
Gênero:
Drama, Suspense
Direção e Roteiro:
Lodge Kerrigan
País de Origem: Estados Unidos da América
Estreia no Brasil: 2004
Estreia Mundial: 6 de Janeiro de 2004
Duração: 100 minutos

terça-feira, 3 de abril de 2012

O que o Village tem?

(Estive  com amigos no último verão de Nova Iorque e escrevi, em um guardanapo, uma pequena crônica sobre o Village em uma aventura desgarrada nesse distrito de Manhattan que cairia no esquecimento se eu não encontrasse o tal guardanapo jogado em uma mala de viagens. Ei-la aqui! E nunca é tarde para publicar. Aproveitem!)


Nova Iorque é, de fato, uma cidade inexplicável. Nunca entendi, por exemplo, por que John Lennon, à frente de seu tempo, cheio de atitude, morava tão “trivialmente” na Quinta Avenida, existindo lugares como o Village. Esse distrito periférico de Manhattan seria a cara de Lennon se talvez Yoko Ono (que mora lá até hoje) não tivesse aquele natural desejo feminino pela Quinta. Pelo menos se presume.

Aquele movimento high social capital, não condiz, de fato, com o ar poético que inspira os mais aflorados sentimentalmente, sentando em qualquer banco de praça desse pacato e romântico lugar, pertinho do SoHo, ao mesmo tempo em que, sem se esquivar do traço de qualquer cidade cosmopolita, consegue se mostrar inusitado em curiosos momentos. E não seria esse um prato cheio para os poetas?

Sentei em um charmoso restaurante italiano, que prefiro não chamar de café ou bistrô porque, além de não ter essa qualificação oficial, se assim o fizesse não estaria no Village. Ali, as pessoas, nem sendo tão bonitas, passam cheias de estilo próprio; nem tão cheias de grifes, todas desfilam, como que em uma passarela que intercorre todos os entremeios de ruas tranquilas e delgadas avenidas.

O Bar Pitti foi a minha escolha, e logo ao sentar, o garçom me aponta o cardápio de pratos, um quadro de giz elegantemente pregado na parede no pequeno salão que, para enxergar, tem-se que esticar o pescoço sutilmente para não se parecer enxerido na mesa alheia. Ali me senti de verdade em Nova Iorque. A que muitas vezes quer nos se revelar e ainda não consegue, nem mesmo com o esforço de apaixonados como o cineasta Woody Allen que já passeia por outros ares.

O Village é alegre. E eu ainda nem tinha tomado minha primeira taça de vinho. É tranquilo, e ainda nem tinha tomado a minha décima. Pode-se descobrir o perfil agitado do lugar ou a sua serenidade, estando com um grupo de amigos ou mesmo solitário, apenas observando, como eu, e isso foi o que se tornou o grande trunfo para mim naquele momento.
 
Mas qual o motivo pelo que nunca me fiz perceber o Village assim?  Por ali já passei algumas vezes mas somente o “reencontrei” quando estava sozinho. E foi quando tive as melhores visões que Manhattan pode proporcionar.

Um pai com duas crianças andava apressado carregando... uma jarra de água?!... e um saco de gelo?!... 

Deixei de querer entender melhor aquilo quando uma jovem típica americana, seios avantajados e bochechas rosadas, um tanto acima de seu peso, mascando um chiclete, com um fone no ouvido passou por mim levando à tiracolo o seu namoradinho, aparentemente mais velho, estilo modelo, músculos definidos à mostra, óculos Rayban que, se talvez não fosse a diferença entre os dois e o acessório que carregava, passaria despercebido em meio a tantos tipos iguais que por ali andam: uma bolsa da famosa marca Burberry no seu ombro. Seria a nova tendência dos homens em usar bolsas de mulheres? Errado. Há três passos atrás, uma senhora deu um gritinho que, dali, consegui ouvir: “Wait for me daughter!”.  Bingo! O descolado rapaz, com toda pinta de galã, levava gentilmente e em bom estilo a bolsa da sua sogra. O Village não estava lançando tendência em minha frente e o amor é lindo. Será?!

Já não queria mais dar conta das vidas que passavam sobre a minha mesa, embora aquilo estivesse me divertindo mais que qualquer musical clichê da Broadway. Minha massa bolonhesa acabara de chegar e duas goladas do bom vinho poderiam me fazer concentrar nela... ou não. Minha última sorvida do que restou do vinho não foi suficiente para que eu deixasse de ver uma “vovó” virando o seu prato inteiro de espaguete no da sua amiga, enquanto falava vidrada em seu iPhone. Mas o que estaria acontecendo ali?

“Yeeeeess, dear, I'm going now!”.  Que alegria! A vovó simplesmente desistiu de saborear o seu prato para encontrar com um "dear", enquanto a coleguinha, atônita, via-se em frente a um inesperado prato de macarrão, depois de já ter se empanturrado de seu risoto, .

Um rastafári ruivo?! Já devo estar bêbado... Esperou um pouco por alguém ali, olhando para os lados, e, dando a mão para o seu companheiro, saíram apressados. Normal em Manhattan, não fosse o ruivo, trajando calça de colegial, suspensório, sapato de vinil vermelho e uma gravata borboleta, com tatuagens até às pálpebras, namorar um nerd gordinho, cabelo repartido, de camisa engomadinha e de óculos pretos redondos três vezes maior que o seu rosto que, inclusive, deixou-os cair, o que causou um certo desconforto entre o casal que teve que se separar por instantes para que o nerd voltasse em busca do objeto enquanto o ruivo aguardava, irritadinho.

O que fazem os cronistas longe daquele quarteirão? Não seria ali um lugar ideal para um roteirista? Será que ali já se inspiraram com a imagem maravilhosa de um velhinho de seus oitenta anos em roupa de academia, boné, fone no ouvido e camelback, montado em um patins com o qual fazia piruetas na esquina, quase atropelando a senhora que, por preocaução, já trazia seu poodle na mão?


E aquele outro vovô com um tênis de uma brancura polar, que deixou cair seu headphone e num golpe só pegou o acessório do chão, e sem perder as passadas, foi arrumando com destreza o seu aparelho de caminhada? Ah, eu adoro os vovôs e as vovós, e os do Village são os mais legais!

“What te fuck...”. Lembram da Precisosa do aclamado filme?! Não era ela, mas uma cópia e se zangou com o vovô de tênis branco que quando fez o brusco movimento com o seu headphone nas mãos, apressado que estava, quase derruba a sua sacola de chocolates. Sim, ela comia chocolates em uma sacola.

Pedi a conta, triste que o dia já estava terminando. Cruzando a rua, saindo do bar, e as pessoas que trabalham em uma pizzaria movimentada dali, serviam seus clientes no meio da calçada, como em uma festa. Passei pelo meio do aglomerado para me sentir convidado naquilo. Antes de deixar o lugar, quase perdi a visão que fecharia minha aventura com maestria. Na parte interna da pizzaria, deu para ver a vovó do iPhone sentada em uma mesa, provavelmente com seu "dear" e com um motivo muito forte para trocar o macarrão do Pitti por uma pizza do bairro.

Terei que voltar ao Village...

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Mole Poblano: a apreciada iguaria mexicana que me nocalteou!

Italo Calvino, o célebre literário italiano, escreveu em uma obra que, provavelmente, a comida mexicana, pelos elaborados sabores, tinha origem obscura.

Talvez, os indígenas ocultavam o gosto da carne, proveniente dos sacrifícios humanos, adereçando-a com muitas especiarias, para oultar seu verdadeiro gosto. A verdade fica para os historiadores, mas o certo é, que a gastronomia mexicana é rica, elaborada e carregada de sabores.

É também, o resultado de uma estranha mestiçagem, principalmente, com a comida espanhola, com seus ingredientes básicos no milho, adorado pelos indígenas, o chilli, (pimentas regionais secas), com mais de 100 variedades dignificando os sabores, e o feijão, ingredientes que se encontra sob diferentes formas em toda comida que por lá se prepara.

A comida é para muitos mexicanos o melhor momento do dia e se compõe de soupa seca, uma espécie de caldo ralo muito temperado, com arroz; um segundo prato que pode ser carne, peixe ou frango, sobremesa e café.

Não se pode, de jeito nenhum, abandonar o México sem ter experimentado o verdadeiro prato mexicano, o mole poblano, o prato bandeira da cozinha mexicana que é, na verdade, a base para acompanhar frango, carne de porco, de cordeiro ou mesmo de boi. Dizem que a receita foi inventada pela freira de um convento que, querendo agradar ao bispo, misturou mais de 30 ingredientes, impressionando-o com o delicioso molho. A preparação é devagar e trabalhosa por ter diversas etapas onde se vão misturando todos os ingredientes que vai até uma pequena barra de chocolate meio-amargo, à amanedoim, tomates, amêndoas, passas, alhos, pimentao, canela, pão, banana etc. E foi ele, exatamente o Mole Poblano o meu vilão...

Já viajei para alguns lugares e experimento realmente de tudo. Sou acostumado a comidas codimentadas e gosto do sabor salgado e picante, mas a culinária mexicana, inusitadamente e literalmente, me derrubou. Fiquei acamado no quarto do hotel por um dia inteiro com sintomas que é melhor não comentar...

Mas eu não costumo deixar o inimigo rindo de mim e preparei a minha doce (ou apimentada) vingança. Fui para dentro da cozinha do chef Jésus García (De Cortés), a seu convite, para aprender a fazer o prato. E, mesmo ainda convalescendo, enfiei tudo goela abaixo com muita vontade! É inexplicavelmente bom demais aquilo!

Bom, sobre o mal que me acometeu, você saberá se lhe acometerá também, assistindo esse vídeo que preparei onde irá aprender a fazer o Mole e, se tiver coragem, comer. Que Montezuma, pois, lhe seja bonzinho... Quem é Montezuma? Assista o vídeo!
















Aprendi a fazer o Mole Poblano


                                                                                
















Pequeno domentário sobre o Mole