quinta-feira, 19 de julho de 2012

Inventa!


Qualquer invenção é um ato de responsabilidade. Trato das coisas novas criadas no campo da ciência, das artes ou da tecnologia, há de se imputar obrigações iguais a qualquer que seja o sentido do ato de inventar, sendo ela boa ou ruim. 
Na verdade, trato dos elementos que vão nascendo e se ingerindo na vivência como que planejada desde a concepção divina de Adão e Eva, e não saem mais sob pena de se acabar com a própria existência. Ingrediente da Obra que teria o seu tempo certo para existir assim como foi a Construção descrita no Livro Genesis. É como se ainda estivéssemos desenvolvendo o que as Escrituras apenas começaram a descrever.
Não, não é filosofia e muito menos teologia! Note bem. Vamos do final ao começo. Você pensa que eu poderia estar escrevendo este texto em uma Olivetti com pedal ou uma Swissa, modelo Piccola (300 euros pela raridade)? Sim, poderia, desde que eu quisesse muito homenagear o brilhante Mário de Andrade quando deixou de escrever à tinta crua para usar um novo apetrecho até então surreal que fez mudar até a própria poesia. O artista brasileiro, por conta da máquina de escrever, tornou seus escritos mais impessoais porque deixou de dar, através do manuscrito, a sua personalidade de maneira mais evidente, tornando-se mais seco e de perfil objetivo. O que não aconteceu, por exemplo, com Henry James que passou então a ditar seus textos a um subordinado, tendo mais tempo e disposição para se inspirar.
Como que, de certo, querendo homenagear um ou outro célebre poeta, adeptos da evolução, eu poderia sim estar me valendo de uma novidade do mercado, e aí o caríssimo leitor poderia imaginar zilhões de possibilidades. Poderia estar escrevendo este texto em um PC, um note, um smart, um tablet e, quem sabe, conhecendo o novo aparelho que escreve com as ondas cerebrais. Não conhece? Eu também não, pelo menos por enquanto…
Lembro do meu pai, quando eu, ainda criança, ouvia sinais de ondas chiando em um aparelho enorme, do tamanho de uma caixa de som, “linkados” por um microfone esquisito em que ele repetia “CQDK, CQDK, em QRP, na escuta?” Era um saudosíssimo radioamador que servia para se relacionar mundialmente e trocar ideias, culturas, informações. Alguém conhece algo parecido nos dias de hoje? Bom, meu pai ainda guarda o seu aparelho, que já não era mais a “caixa de som” porque, assim como tudo evolui, o aparelho também evoluíra e ele trocara por um do tamanho de um tijolo, achando fantástico que a frequência poderia ser acompanhada por números digitais.
Certamente, naquela época, muitos poderiam viver sem o que era considerado um artigo de luxo, semente do que hoje é a rede mundial de computadores, agora ninguém, absolutamente ninguém, consegue se relacionar, sequer com o mais primitivo dos instintos, se não tiver, pelo menos em sua rua em qualquer Lan House, um computador conectado à internet. Como é que você iria dizer à sua mãe, que mora em Chapadinha, que o seu Décimo Terceiro não caiu na conta e que esse ano não vai conhecer seu novo tablet? Aliás, como é que sua mãe poderia saber o que é um tablet? Inimaginável que você escreva uma carta em papel almaço (lembra?) para esta função, depois cole um selo em um envelope de bordas verde-amarelas e vá até uma caixa de correio na esquina (ainda existem?). Sem internet, hoje, você não vive! Não tente se iludir!
Vamos avançar na involução. O telefone celular – que não sei por qual razão adquiriu esse nome tão feio se até em Portugal é mais prudente se chamar de telemóvel, honrando a praticidade do objeto quando por aqui ninguém entende o que, realmente, "célula" tem a ver com telefonia – , me lembro bem, vi nas mãos de uma madame que passeava na Faria Lima em seu Mercedes-Benz guiado por um motorista de uniforme. Era um pequeno bloco que a mão da senhora não conseguia abarcar e uma antena que só não saltava pela janela porque madame em São Paulo jamais anda de janelas abertas. “Essa deve ser mulher de bicheiro”, pensei. Hoje não se joga mais no bicho porque existe o Poker Party e os celulares servem até mesmo como telefone. Impressionante!
Imaginemos que, em um rompante saramaguiano, o mundo ficasse "cego" de celulares. Se um vírus tomassem conta dos aparelhos – sim, vírus há muito não é mais um “privilégio” dos animais – e todas as linhas de telefonia móvel parassem de funcionar. Vamos nos poupar de uma visão macro. As redes de telefonia iriam ter um colapso financeiro tão grande adeus aos cabelos rebeldes de Neymar na tela... ninguém, por exemplo, poderia imaginar que antes de sair de casa, você poderia deixar as calças justificadamente e sair só de cuecas mas jamais conseguiria esquecer do iPhone. Passou a ser instintivo.
Vamos aquém. Hoje você não precisa sair efetivamente de casa para ficar desesperado se o seu aparelho celular não estiver à sua mão. Pode ser que você precise ligar para o seu irmão que está no quarto ao lado para perguntar que barulho era aquele, em uma madrugada qualquer, na porta da frente de casa, se tremendo de medo, quando há algum tempo atrás, você só se cobriria com o cobertor e rezava.
Imagine, então, se Graham Bell (quem?) não tivesse tido várias noites de insônia e criado uma das maiores invenções do século passado, o bisavô do brinquedo móvel? Tudo bem que o telefone fixo virou um apêndice doméstico, mas você certamente não poderia ter vivido sem ele. Primeiro porque sem um, não viria o outro, e mais que isso, sinceramente eu não consigo conceber, na minha história de vida colegial, a gatinha da 3ª “A” dizendo pra mim “desliga você primeiro, vai”.
Mas não é só ao que se poderia chamar de futilidade inventada – até que fosse apresentado no Japão e o Jornal Nacional não noticiasse, porque no ano seguinte já passa, incondicionalmente, a ser necessidade – que o mundo se dobra. Houve invenções cruciais para que o mundo pudesse realmente existir até hoje. Como você extrairia o seu terceiro molar sem anestesia? Lógico que não o faria. E isso, com certeza, teria impacto no desenvolvimento natural da espécie. A seleção de Darwin não iria reconhecer a desimportância do dente e acabaríamos por ter mais de quarenta dentes na boca dentro de 100 anos, o que faria do Ronaldo fenômeno um verdadeiro “banguela”. Meu vizinho, grande pessoa, iria morrer por causa de uma unha encravada, coitado!…
Ponha na cabeça (ou no seu pendrive)! O mundo existe até que se crie algo e deixará de existir, literalmente, se algo que lhe foi criado se torne extinto. Mas calma! O desaparecimento de uma espécie animal é trilhões de vezes menos relevante do que o possível bug de artefatos “Louis Vuitton”. Não se cogita a existência do que somos hoje sem Wilhelm Schickard, que construiu a primeira calculadora mecânica em 1623; James Watt, que desenvolveu a máquina a vapor em 1765; Samuel Morse, que criou e registrou a patente do telégrafo em 1837; Alexander Graham Bell, que inventou o telefone em 1876 (lembrou?); Thomas Alva Edison e Joseph Swan, que inventaram a lâmpada elétrica em 1879; Karl Bens, que desenvolveu o primeiro veículo com motor à gasolina em 1885.
E não parou aí. Os irmãos Lumière, que criaram o cinematógrafo, antecedente do cinema em 1895 (Graças a Deus!); Santos Dumont, brasileiro, que realizou o primeiro voo com o 14 bis, o primeiro avião (que franceses que nada!) em 1906; da rede Arpanet, que com objetivos militares, daria origem à Internet em 1969; do Pong, primeiro videogame, que foi lançado em 1972 (se você conheceu, não deixe seu filho saber pra não rir da sua cara), Philips e Sony (as empresas), que lançaram o CD-Rom em 1984 (o que é estranho é que era chique ganhar o CD do Leandro e Leonardo. Hoje é chique ter um vinil da Lady Gaga!); Tim Berners-Lee, o deus da Internet, criada por ele em 1990…
Como é que eu sei isso tudo? Google! Em tempos de WikLeaks, conhecer muito das coisas pode ser um problema sério… Se é um personagem da Disney?! Não, mas é questão de pouco tempo para que o sítio de nome engraçadinho de bonequinho da Disney seja mais necessário que Orlando e o seu Mickey Mouse…

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